Uma descoberta a cada dia

O trabalho de campo como Agente de Orientação Empresarial do Sebrae (AOE), nos proporciona uma série de descobertas, além da fantástica troca de experiêcias e absorção dos causos alheios. Posso dizer até que é um trabalho que nos faz mais humanizados. Afinal, são histórias de vida que talvez nunca passássemos, ou ainda nunca ouvissemos falar, mas o campo nos permite viver a vida de outras pessoas bem de pertinho.

No meu primeiro grupo de clientes, deparei-me com uma situação um tanto quanto delicada. Como AOE, temos a função de conscientizar, instruir, dar consultoria aos empreendedores que visitamos diariamente. E durante as duas semanas de capacitação, colocamos em prática diversas situações, e entre elas o uso da linguagem mais adequada à cada cliente, respeitando sempre sua cultura, jeito de falar e de se expressar. O diagnóstico deveria ser aplicado com o máximo de clareza, para entendimento dos clientes.

Enfim...

Tenho uma cliente analfabeta, na melhor idade, que foi proibida junto com os irmãos, pelo pai, a estudar, pois à época, era mais importante ter filhos ajudando no orçamento, que estudando, já que pra ele estudo não dava futuro. Bem, dona M.A.M., analfabeta de pai e mãe, toca dois pequenos empreendimentos sem a ajuda de ninguém. Um deles é o seu principal ganha-pão, é de onde ela sempre tirou para sustentar os filhos e alguns netos, o segundo negócio é mais recente, não possui arrumação adequada, não tem faixada, é mal iluminado, e etc,etc,etc. Mas dona M.A.M cuida primorosamente da clientela. Conhece seus concorrentes, planeja suas compras, não possui dívidas com seus fornecedores, e conhece apenas os números. Não consegue fazer a apuração das vendas porque não sabe identificar os produtos pelo nome, e mesmo assim dona M.A.M não desiste. E é entre uma venda e outra que ela faz os cálculos do que arrecadou no dia.

Sua história de vida vai bem além de não saber ler, de não ter ninguém para ajudá-la( e vale ressaltar: ela tem parentes que moram na casa dela, netos, filhas, etc) e ninguém encontra tempo nem disposição para ajudar. E ainda assim ela pensa em mudanças, em melhorias. Posso dizer que esse sim é um caso de vida que nos faz crescer, e pisar com mais firmeza no chão.

Tive muitas dúvidas sobre como ajudar com  o trabalho de AOE, pois não posso entregar-lhe, como faço a outros clientes, um relatório final sobre o que foi avaliado durante a consulta. Mas uma coisa é certa,
sei que posso fazer algo além do  trabalho de um AOE, posso como cidadã, como ser humano, e assim vou fazer.

Essa é a minha história de hoje, e ela serve para que reafirmar cada vez mais, que essa troca, não tem preço. Que ser um AOE, nos torna humanos mais conscientes.

Fuii!!